26.5.09

Quase tudo

Um dia desses, ouvia uma conversa de minha mãe e uma amiga. Esta não entendia como os filhos podem viver tão bem sozinhos. Não conseguia engolir a história de que alguém pode se sentar numa mesa de restaurante sem companhia. Ela dizia: “Eu jamais faria uma coisa dessas. Não sei como é que eles conseguem”. E minha mãe, com orgulho, apontou para mim e disse “Ela sempre ficou bem sozinha. Sempre foi independente e fez coisas que eu, realmente, não teria coragem de fazer. Viaja, vai ao cinema, sai para jantar ou tomar um café em uma destas boutiques que ela adora. Sempre sozinha, mas sempre muito bem e feliz. Eu tenho orgulho dela, da mulher que ela se tornou. Ela é forte e sabe muito bem o quê quer e o que lhe faz bem, o que a faz feliz, mesmo que seja esta saudável solidão”.

Há duas semanas ganhei de um amigo muito querido, o Preto, o livro Quase tudo, de Danuza Leão. Aliás, foram vários livros que o Preto me deu, mas este, como ele mesmo disse, o Quase tudo é um guia de sobrevivência, um manual para se livrar de tudo aquilo de infeliz que alguém possa causar a si próprio.
Danuza é fantástica. É inteligente e refinada demais. Uma diva.
Logo nas primeiras páginas do livro, ela dispara uma reflexão que me fez pensar por dias, até que eu tivesse a certeza de sua profundidade e de nunca ter visto alguém dizer nada parecido com isso, com tanta autoridade e segurança: “Comecei a desconfiar que o amor não é tudo; até é, enquanto se está amando, mas, para viver uma paixão, é preciso renunciar à própria vida, uma opção perigosa que não costuma ser eterna”.

Pois é... Até onde vai o direito de alguém impor sua vontade e querer que você se dobre diante de seus desejos? Até que ponto é inteligente ceder ao convite de alguém que diz ser capaz de lhe fazer plenamente feliz?

São tantas as promessas...

Prefiro continuar viajando sozinha, e passeando pelas escadas rolantes dos aeroportos. Assim, continuo bisbilhotando o mundo dos outros. Afinal, cada um, um mundo.

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