Ouvir.
Há que saber ouvir, nem que seja o torturante silêncio.
Algumas vezes, por mais que você tente, não consegue
encontrar algumas respostas sobre tua própria vida. Por isso, há que ter a
humildade de ajoelhar-se diante de seu “carrasco”, teu libertador. Aquele que
dispara contra seu teu peito o tiro de misericórdia e te livra de todo o medo e
da dor da partida.
Hoje, me ajoelhei diante dele, meu carrasco herói e
salvador.
A conclusão?
Uma conversa franca, cheia de críticas, elogios e lágrimas.
Muitas lágrimas.
A releitura de uma vida vista pelo outro, pelo teu expectador, uma testemunha
que se cala até que você se desarma diante dela pra que se mostre disposto a
ouvir sobre si próprio e aprender com teus erros.
Não é fácil, nada fácil. Confesso.
Sabia que essa conversa aconteceria, e tinha medo do que
ouviria.
Depois de meu carrasco libertador fazer o disparo, bem no
meu peito, me dei conta de que posso, sim, me libertar do que fez meus olhos
sangrarem por dias.
Não errei.
Amei.
Só isso.
Aliás, tudo isso.
Fiz muito, muito mesmo, até muito mais do que deveria, mas
não foi o suficiente. Não para mim, mas para o outro.
Se eu pudesse, juro, teria feito muito mais. Sempre.
Ele, o meu carrasco, me disse algo que traduz com clareza o
que aconteceu... Me entreguei à ponto de fazer mais pela vida do outro do que
pela minha própria vida. Trabalhei mais pela felicidade do outro do que pela
minha própria felicidade, que estava diretamente ligada à vê-lo feliz. E isso é
o amor em sua forma mais plena. Não é paixão, não é desejo nem tesão. É amor
pleno e puro. Algo que a maioria das pessoas nunca será capaz de viver pelo
egoísmo que caracteriza o homem como indivíduo - que pensa e age, sempre, para
sua própria satisfação, nunca pela do outro. Primeiro o “eu”, depois o outro.
Sempre.
Essa é a lei que rege a humanidade. Sempre foi.
Não sou assim, não sei ser assim.
Optei por isso, vivi o mais sublime dos sentimentos. E agora
preciso entender esse processo. O desligamento. A ausência daquele à quem
oferecer o que tenho de melhor.
Entregar-se à alguém dessa forma é o maior presente que o
outro pode receber, desde que tenha consciência do valor que esse ato tem. Se
não há clareza sobre o fato de que essa pessoa poderia entregar seguramente sua
vida em tuas mãos, isso de nada adianta. Não tem valor. Vira só uma transa, ou
uma sequência delas. Algumas até bem boas, mas que quando terminam são vazias e
dificilmente se converterão em companheirismo, num omelete preparado em plena
madrugada, ou um banquete gourmet preparado sempre com amor.
Sempre o amor no
trato do outro. Sempre.
Pra matar a fome do corpo e da alma.
E é isso que te sobra, uma lembrança.
Talvez até a sensação de que você possa ter falhado, mas
não.
A falha não foi minha, eu sei, mas dói. Dói muito.
Agora, é respirar fundo e cuidar de mim, apenas de mim, da
mesma maneira que cuidei do outro. Me oferecer à mim mesma, assim como manda a
cartilha do bicho homem... Primeiro eu, depois o resto.
Será?
Acho que não.
Repito, não sou assim.
Não sei ser assim.
Talvez um dia eu aprenda...
Mas, até que esse dia chegue, sigo assim... como eu sou.
Sendo eu.
Plenamente.
Simples assim.